No passado o sistema masculino considerara as mulheres uma
classe inferior, amordaçara-as, queimara-as, apedrejara-as. Com o tempo, elas
se libertaram, resgataram parcialmente seus direitos. As mulheres começaram a votar, brilhar no mundo acadêmico, crescer no
mundo corporativo, ocupar espaços nos mais diversos territórios sociais; as
mulheres tornaram-se cada vez mais ousadas. Com eficiência, começaram a mudar
algumas áreas vitais da sociedade, a introduzir tolerância, solidariedade,
companheirismo, afeto e romantismo. Mas o sistema não as perdoou pela audácia. Preparou
para elas a mais cafajeste e sorrateira das armadilhas. Em vez de exaltar sua
inteligência e notória sensibilidade, começou a exaltar o corpo da mulher como
nunca na história. Usou-o exaustivamente para vender produtos e serviços.
Aparentemente elas sentiram-se bem-aventuradas. Parecia que as sociedades
modernas estavam querendo compensar milênios de rejeição. Ingênuo pensamento. Quando
as mulheres se sentiam no trono do sistema masculino, o mundo da moda as
aprisionou no mais grave e sutil estereótipo! O estereótipo do belo, no mundo
da moda, começou a ser formado pela exceção genética. Que desastre! Que
injustiça!
Para maximizar as vendas e
gerar uma atração fatal entre as mulheres, o mundo fashion começou a
usar o corpo de jovens completamente fora do padrão comum como protótipo de
beleza. Uma entre dez mil jovens de corpo magérrimo e faces, quadris, nariz,
busto e pescoço estritamente bem-torneados tornou-se ao longo dos anos o
estereótipo do belo. Que conseqüências no inconsciente coletivo! A exceção
genética virou a regra. As crianças transportaram as bonecas Barbies com seu
corpo impecável para o teatro da vida, e as adolescentes transformaram as
modelos em um padrão de beleza inalcançável. Esse processo gerou, em centenas
de milhões de mulheres, uma busca compulsiva do estereótipo, como se fosse uma
droga. Elas, que sempre foram mais generosas e solidárias que os homens, se
tornaram, sem perceber, carrascas de si mesmas. Até as chinesas e japonesas
estão mutilando sua anatomia para se aproximar da beleza das modelos
ocidentais.
Tal modelo penetrara como uma
bomba silenciosa no inconsciente coletivo, implodindo a autoimagem, causando um
terrorismo contra a auto-estima, algo jamais visto na história. No passado, os
estereótipos não tinham graves conseqüências coletivas porque ainda não éramos
uma aldeia global. Quando as mulheres pensavam que estavam voando livremente, o
sistema tosou-lhes as asas com a ”síndrome da Barbie”.
O sistema social é astuto,
grita quando precisa se calar e se cala quando precisa gritar. Nada contra as
modelos e os inteligentes e criativos estilistas, mas o sistema se esqueceu de
gritar que a beleza não pode ser padronizada.
Onde estão as gordinhas nos
desfiles? Onde estão as jovens com quadris menos bem-torneados? Onde estão as
mulheres de nariz saliente? Por que neste templo se escondem as jovens com
culotes ou estrias? Não são elas seres humanos? Não são elas belas? Por que o
mundo está destruindo a auto-estima das mulheres? Essa discriminação
socialmente aceita não é um estupro da auto-estima?
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