Senso Crítico

Senso Crítico

terça-feira, 12 de junho de 2012

Quem Namora





Quem namora agrada a Deus.
Namorar é a forma bonita de viver um amor.
Não namora quem cobra nem quem desconfia.
Namora, quem lê nos olhos e sente no
coração as vontades saborosas do outro.

Namora, quem se embeleza em estado de amor.
Namora, quem suspira, quem não sabe
esperar mas espera, quem se sacode de taquicardia e timidez diante da paixão.
Namora, quem ri por bobagem,
quem sente frios e calores nas horas
menos recomendáveis.

Não namora quem ofende,
quem transforma a relação num inferno,
ainda que por amor.
Amor às vezes entorta, sabia?
E quando acontece, o feito pra bom faz-se ruim.
Não namora quem só fala em si e deseja
o parceiro apenas para a glória do próprio eu.

Não namora quem busca a compreensão
para a sua parte ruim.
O invejoso não namora. Tampouco o violento!
Namorados que se prezam têm a sua música.
E não temem se derreter quando ela toca.
Ou, se o namoro acabou, nunca
mais dela se esquecem.

Namorados que se prezam gostam de beijo,
suspiro, morderem o mesmo pastel, dividir
a empada, beber no mesmo copo.
Apreciam ternurinhas que matam
de vergonha fora do namoro
ou lhes parecem ridículas nos outros.

Por falar em beijo, só namora quem
beija de mil maneiras e sabe cada pedaço
e gostinho da boca amada.
Beijo de roçar, beijo fundo, inteirão,
os molhados, os de língua, beijo na testa,
no seio, na penugem,
beijo livre como o pensamento,
beijo na hora certa e no lugar desejado.
Sem medo nem preconceito.
Beijo na face, na nuca e aquele especial atrás
da orelha, no lugar que só ele ou ela conhece.

Namora, quem começa a ver
muito mais no mesmo que sempre viu
e jamais reparou.
Flores, árvores, a santidade, o perdão,
Deus tudo fica mais fácil para quem
de verdade sabe o que é namorar.
Por isso só namora
quem se descobre dono de um lindo amor.

Só namora quem não precisa explicar,
quem já começa a falar pelo fim,
quem consegue manifestar com
clareza e facilidade tudo o que
fora do namoro é complicado.

Namora, quem diz:
"Precisamos muito conversar";
e quem é capaz de perder tempo,
muito tempo,com a mais útil das
inutilidades e pensar no ser amado,
degustar cada momento vivido
e recordar palavras, fotos e carícias
com uma vontade doida de estourar o tempo
e embebedar-se de flores astrais.

Namora, quem fala da infância
e da fazenda das férias,
quem aguarda com aflição o telefone tocar
e dá um salto para atendê-lo
antes mesmo do primeiro "trim".
Namora, quem namora, quem à toa chora,
quem rememora,
quem comemora datas que o outro esqueceu.
Namora, quem é bom, quem gosta da vida,
de nuvem, de rio gelado e parque de diversões.

Namora, quem sonha, quem teima,
quem vive morrendo de amor
e quem morre vivendo de amar.

sábado, 2 de junho de 2012

Verdade e Mentira



Costuma-se dizer que “a mentira tem pernas curtas” e também que “no final, a verdade sempre aparece” . Parece-me que  o primeiro provérbio é menos verdadeiro que o segundo, pelo  menos em nossos dias. Vemos e ouvimos mentiras que fazem, impávidas, longas e vitoriosas caminhadas até que, um dia – e afinal – a verdade aparece. Nestes nossos dias de comunicação de  massa de um lado, e de dramática falta de credibilidade na  pessoa humana, de outro, um novo axioma vai surgindo e se  impondo: uma afirmação, uma vez feita, é muito difícil de ser desmentida, seja ou não verdadeira. Um fato uma vez revelado, perdura
em sua essência a despeito de quaisquer justificações.
Há, ainda, na vida, as danadas das meias verdades..
O princípio jurídico determina que in dubio pro reo , ou  seja, que a dúvida beneficie o acusado, ou trocado em miúdos, que  ninguém tem que provar a sua inocência, pois o ônus da prova cabe à  acusação. Infelizmente, na vida prática as coisas não correm assim. E generaliza-se a prática de lançar afirmações a torto e a direito, não apenas na vida política (a mais visada de todas), mas também no meio artístico (muito atingido), seguindo-se o mundo dos negócios para chegar até o relacionamento particular das pessoas. A palavra de ordem é gritar afirmações, o mais alto que puder, e de preferência acusações  contra inimigos, invejados, rivais, vitoriosos etc. Podem ser coisas sutis, que deixarão dúvidas por muito tempo; podem ser mentiras  grosseiras logo desmascaradas. Em qualquer caso, ficará um resquício da afirmação feita e a limpidez da verdade nunca será resposta.
Só o tempo a tudo aplaina, aplaca, explica, absolve.
Se é assim com as mentiras, muito mais com as verdades! Mesmo as que já não o são. O tempo e as circunstâncias podem determinar alterações profundas nos fatos e, principalmente, nas pessoas. Mas a verdade presente tem sempre menos força do que a anterior, quando, por lógica, deveria ser o contrário. É aí que se inverte o princípio jurídico e o inocente passa a ter de provar que não é mais culpado (nesse mais repousa todo o “x” da questão: ele foi culpado e as pessoas se perguntam ou perguntam umas às outras
 “por que teria ele mudado agora?”). Há mil respostas para essa pergunta, mas dificilmente alguma é suficientemente nítida para mudar a situação: o ex-culpado continua sendo culpado, até prova cabal de sua presente inocência. 
É assim no amor, na política, nos negócios, na vida particular. Antes, em qualquer desses campos, havia o temor de “ficar falado”, mas tudo se passava em círculos restritos. Hoje, ato impensado ou frase infeliz percorrem o mundo em segundos, via satélite. Consertar o ato, remendar a frase serão meros  paliativos de mal sem remédio. 
                                    
                        Artur da Távola