Senso Crítico

Senso Crítico

domingo, 18 de agosto de 2013

Minha Esperança



O que é a esperança?
A esperança da justiça é o equilíbrio da balança
a esperança do equilibrista é andar na corda bamba
a esperança do artista é o aplauso e o bis
a esperança nas entrelinhas quer dizer mais do que diz
a esperança do palhaço é o sorriso da criança
a esperança do faminto são tempos de bonança
a esperança do cativo são ventos de liberdade
a esperança de quem sonha é que tudo vire realidade
a esperança de quem planta?
é uma simples semente e um pouco de umidade
a esperança de quem ama é um amor de verdade
minha esperança o que é?
Minha esperança é criança
Que renasce a cada dia
Seja pela visão de estrelas
Ou do sol de um novo dia
Romantismo ao cair da tarde, misturado a melancolia
Banhada pelo orvalho de uma alvorada sadia
Minha esperança por vezes não passa de uma lembrança
Noutras, um futuro adiante, um caminho
Minha esperança é um passo,
Não importa em qual direção
Pois num mundo assim, redondo, não existe contramão
Minha esperança é um alforje
Com terra, água, luz e brisa
Uma mão sempre estendida
Um olhar por vezes vago
Um peito sempre apertado
Repleto de amor à vida!


Juanito

Pintura de Natalie Turner - Silent River

sábado, 17 de agosto de 2013

Bem No Fundo



No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto

a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo

extinto por lei todo o remorso,
maldito seja que olhas pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais

mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos
saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.

Aviso Aos Náufragos



Esta página, por exemplo,
não nasceu para ser lida.
Nasceu para ser pálida,
um mero plágio da Ilíada,
alguma coisa que cala,
folha que volta pro galho,
muito depois de caída.

Nasceu para ser praia,
quem sabe Andrômeda, Antártida
Himalaia, sílaba sentida,
nasceu para ser última
a que não nasceu ainda.

Palavras trazidas de longe
pelas águas do Nilo,
um dia, esta pagina, papiro,
vai ter que ser traduzida,
para o símbolo, para o sânscrito,
para todos os dialetos da Índia,
vai ter que dizer bom-dia
ao que só se diz ao pé do ouvido,
vai ter que ser a brusca pedra
onde alguém deixou cair o vidro.
Não e assim que é a vida?

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Podemos mudar o Mundo Imitando as Borboletas




Em que mundo eu gostaria de viver? Na verdade, não posso dizer muito. Isso porque, em primeiro lugar, em 60 anos de empenho na sociologia, nunca fui bom em profetizar. Em segundo lugar, no fim de uma vida imperdoavelmente longa, a única definição de boa sociedade que eu encontrei diz que uma boa sociedade é tal se acredita não ser suficientemente boa. Portanto, prefiro me concentrar não tanto no mundo em que queremos viver, mas sim no mundo em que devemos viver, simplesmente porque não temos outros mundos para os quais escapar. Refiro-me a uma citação de Karl Marx, que afirmava que as pessoas fazem a sua própria história, mas não nas condições escolhidas por elas. Todas as vezes que eu a ouço, lembro-me também de uma historinha irlandesa que nos fala de um motorista, que para o seu carro e pergunta a um transeunte: "Desculpe-me, senhor, poderia me dizer por gentileza como posso chegar a Dublin a partir daqui?". O transeunte para, coça a cabeça e depois de um tempo responde: "Bem, caro senhor, se eu tivesse que ir a Dublin não começaria daqui". Este é o problema: infelizmente, estamos começando daqui e não temos nenhum outro lugar de onde partir.

Portanto, pretendo sublinhar como o mundo do qual partimos "voltados para Dublin", seja lá o que Dublin queira dizer, está cheio de desafios e de tarefas urgentes, substancialmente improcastináveis. Penso que, se o século XX foi a época em que as pessoas se perguntavam "o que" precisava ser feito, o século XXI será cada vez mais a era em que as pessoas farão a pergunta sobre "quem" fará o que deve ser feito.

Existe uma discrepância entre os objetivos e os meios à nossa disposição. Meios que foram criados pelos nossos antepassados, que deram vida ao Estado-nação e o dotaram e armaram de muitas instituições extremamente importantes, feitas à medida do Estado-nação. No que se refere ao Estado-nação, ele era verdadeiramente o ápice da ideia de autogoverno e de soberania, a ideia de estar em casa, e assim por diante. Acima de tudo, o Estado-nação era um meio confiável e impecável de ação coletiva, instrumento para alcançar os objetivos sociais coletivos.

Acreditava-se nisso para além da diferença entre "direita" e "esquerda". O Estado-nação era capaz de implementar as ideias vencedoras. Por que era assim? Porque o Estado-nação era considerado, e em grande parte o foi por bastante tempo na história, a fazenda do poder e da política. O matrimônio entre poder e política é um casamento celebrado no céu, nenhum homem pode destruí-lo. Poder significa habilidade em fazer as coisas. Política significa habilidade em dirigir essa atividade de fazer as coisas, indicando quais coisas devem ser feitas.

Ora, o que está acontecendo hoje é a indubitável separação, uma perspectiva de divórcio, entre poder e política. Poder que evapora no ciberespaço e que se manifesta naquilo que eu chamo de "globalização negativa". Negativa no sentido de que se aplica a todos os aspectos da vida social que têm uma coisa em comum: trata-se do enfraquecimento, a erosão, a não consideração dos hábitos locais, das necessidades locais. A "globalização negativa" abraça poderes como as finanças, o capital, o comércio, a informação, a criminalidade, o tráfico de drogas e de armas, o terrorismo etc. Ela não é seguida pela "globalização positiva". Em nível global, não temos nada de remotamente semelhante à eficácia do instrumento do controle político sobre o poder, da expressão da vontade popular, isto é, da representação e da jurisdição, realidades que se desenvolveram e foram bloqueadas no nível do Estado-nação.

À luz dessa discrepância, todas as vezes em que ouço o conceito de "comunidade internacional", eu choro e rio ao mesmo tempo. Nós ainda nem começamos a construí-la. Os nossos problemas são verdadeiramente globais, mas só possuímos os meios locais para enfrentá-los; e eles são despudoradamente inadequados para a tarefa. Por isso a pergunta que eu sugiro provavelmente é questão de vida ou de morte para o século XXI. Quem vai se ocupar disso? Essa será a questão.

Eu não tenho a resposta a essa pergunta, só posso propor algumas palavras de encorajamento. Edward Lorenz é bastante conhecido pela sua tremenda descoberta de que até os eventos mais pequenos, minúsculos e irrelevantes poderiam – dado o tempo, dada a distância – se desenvolver em catástrofes enormes e chocante. A descoberta de Lorenz é conhecida na alegoria de uma borboleta, em Pequim, que sacudia suas asas e mudava o percurso dos furacões no Golfo do México seis meses depois. Essa ideia foi recebida com horror, porque ia contra a natureza da nossa convicção de que podemos ter pleno conhecimento do que virá depois. Ele ia contra a teoria do tudo. De que podemos conhecer, prever, até mesmo criar, se necessário, com a nossa tecnologia, o mundo.

Lembro que nessa descoberta de Lorenz também há um vislumbre de esperança e é muito importante. Consideremos o que uma borboleta sabe fazer: uma grande quantidade de coisas. Não ignoremos os pequenos movimentos, os desenvolvimentos minoritários, locais e marginais. A nossa imaginação vai longe, além da nossa habilidade de fazer e arruinar coisas. Na nossa história humana, tivemos um número relevante de mulheres e de homens corajosos, que, como borboletas, mudaram a história de maneira radical e positiva. De verdade. O único conselho que posso dar, então: olhemos para as borboletas, são de várias cores, felizmente são muito numerosas. Ajudemo-las a bater as suas asas.

Sobre os Laços Humanos

Pintura de Donald Zolan



Um viciado em facebook me segredou, ou melhor, não segredou de fato, mas gabou-de que havia feito 500 amigos em um dia. Minha resposta foi que eu tenho 86 anos, mas não tenho 500 amigos. Eu não consegui isto. Então, quando ele diz “amigo” e eu digo “amigo”, não queremos dizer a mesma coisa. São coisas diferentes. Quando eu era jovem eu nunca tive o conceito de redes, eu tinha o conceito de laços humanos, de comunidades, este tipo de coisas, mas não redes. Qual é a diferença entre comunidade e rede? A comunidade precede você. Você nasce em uma comum idade. Por outro lado temos a rede. O que é uma rede? Ao contrário da comunidade, a rede é feita e mantida viva por duas atividades diferentes: uma é conectar e a outra é desconectar. E eu acho que a atratividade do novo tipo de amizade, o tipo de amizade do facebook, como eu a chamo, esta exatamente aí. A facilidade em desconectar. É fácil conectar, fazer amigos, mas o maior atrativo é a facilidade de desconectar.

Imagine que o que você tem não são amigos online. Conexões online, compartilhamento online, mas conexões off-line, conexões de verdade, frente-a-frente, corpo-a-corpo, olho no olho. Então, romper relações é um evento muito traumático. Você tem que encontrar desculpas, você tem que explicar, você tem que mentir com frequência e, mesmo assim, você não se sente seguro, porque seu parceiro diz que você não tem direitos, que você é um porco, etc. É difícil, mas na internet é tão fácil, você só pressiona delete e pronto! Ao invés de 500 amigos você terá 499, mas isto será apenas temporário, porque amanhã você terá outros 500. E isto mina os laços humanos.

Os laços humanos são uma mistura de bênção e maldição.

Benção, porque é realmente muito prazeroso, muito satisfatório, ter outro parceiro com quem contar, e fazer algo por ele ou ela. É um tipo de experiência indisponível para a amizade no facebook. Então, é uma bênção, e eu acho que muitos jovens não tem nem mesmo consciência do que eles realmente perderam, porque eles nunca vivenciaram este tipo de situação.

Por outro lado há a maldição, pois quando você entra no laço, você espera ficar lá para sempre. Você jura. Você faz um juramento: até que a morte nos separe; para sempre. O que isto significa? Significa que você empenha seu futuro. Talvez amanhã, ou mês que vem, hajam novas oportunidades. Agora você não consegue prevê-las, e você não será capaz de pegar estas oportunidades, porque você ficará preso aos seus antigos compromissos, as suas antigas obrigações. Então, é uma situação ambivalente. E consequentemente um fenômeno curioso desta pessoa solitária numa multidão de solitários. Estamos todos numa solidão e numa multidão ao mesmo tempo. Há dois valores essenciais que são absolutamente indispensáveis para uma vida satisfatória, recompensadora e relativamente feliz. Um é a segurança e o outro é a liberdade. Você não consegue ser feliz ou ter uma vida digna na ausência de um deles, certo? Segurança sem liberdade é escravidão. Liberdade sem segurança é um completo caos, incapacidade de planejar nada, fazer nada, nem mesmo sonhar com isto. Então você precisa dos dois. O problema é que na história ninguém ainda encontrou a fórmula dourada, a mistura perfeita de segurança e liberdade. Cada vez que você tem mais de segurança você entrega um pouco de sua liberdade. Não há outra maneira. Cada vez que você tem mais liberdade, você entrega um pouco de sua segurança. Você sempre ganha algo e perde algo também.