As mulheres têm coisas que irritam um homem até mais não
poder. Possuem uma sensibilidade exagerada, que as leva a amuar por tudo e por
nada; tendem a dizer as coisas apenas por meias palavras; são vingativas;
fartam-se de gastar dinheiro em roupa; ligam imenso ao que as outras dizem;
insistem constantemente em miudezas que mais ninguém consegue ver; se as
deixarem, falam durante horas seguidas de coisas desinteressantes.
Os homens, por seu lado, levam qualquer mulher ao
desespero. Comportam-se, irresponsavelmente, como crianças grandes; não reparam
nas coisas mais óbvias; são desleixados no vestir, na limpeza, na arrumação;
ligam mais ao trabalho e aos amigos do que ao que se passa em casa; preferem o
futebol da televisão aos filhos e à mulher.
É, portanto, irracional que o homem e a mulher se juntem
um ao outro e constituam uma família. É por isso que se torna necessário que a
natureza – para os enganar – arranje uma temporada de cegueira mental, a que se
chama paixão, e os atraia através de um instinto puramente animal.
Fora dessa temporada, as coisas estão no seu devido
lugar: durante a infância, os rapazes preferem conviver com rapazes e as
raparigas com raparigas; depois de passar a paixão, há aqueles conflitos que
todos conhecemos e os arrependimentos tardios de quem se deixou cair na
armadilha…
Mas não! As coisas não são bem assim.
Acontece que estes raciocínios assim tão redondinhos
estão muitas vezes longe de serem verdadeiros, e não expressam com exatidão a
realidade das coisas.
A natureza não nos enganou.
Uma das coisas mais maravilhosas que ela nos oferece é,
sem dúvida, a forma harmoniosa de o homem e a mulher se completarem. Em geral,
que seria de um homem sem uma mulher? E o que seria de uma mulher sem um homem?
Não passariam de seres incompletos, qualquer coisa como uma faca que não
tivesse lâmina, ou que não tivesse cabo.
A paixão é uma coisa maravilhosa, que leva uma mulher e
um homem a unirem as suas vidas no objetivo comum de fundarem uma família e
educarem os filhos. É, porém, necessário que a paixão, para ter sentido, se
torne fecunda. Ela não deve nunca ser considerada um fim em si mesma, porque, pela
sua própria natureza, não pode ser senão um ponto de passagem.
Mas hoje os casais não têm filhos, ou têm poucos filhos,
ou não se empenham – pai e mãe – na educação dos filhos como grande objetivo da
sua união.
E, então, já não há quase nada que os una. A paixão, ao
inevitavelmente passar, deu lugar a… nada. A um aborrecimento vivido em comum.
A um vazio no qual não têm ponta de sentido as qualidades femininas e as
qualidades masculinas, por falta do objeto a que deviam aplicar-se.
Só têm então relevo os defeitos, ou as qualidades que,
carecendo de objeto, se desvirtuaram e se tornaram maçadoras.
A natureza não errou. Nós é que saltámos para fora dos
seus planos. Nada que, em grande parte dos casos, não tenha emenda.
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