É certo que nós, os homens, nos temos animalizado.
Tornaram-se mais raros os comportamentos humanos: quero
dizer comportamentos ditados pela inteligência e pela vontade; pela parte
espiritual – a mais elevada – do nosso ser.
Procuramos encher a barriga, buscamos o divertimento, a
comodidade, o prazer, aquilo que é fácil. Não nos interessam os sábios, os
filósofos, os poetas, os santos. Não queremos ouvir falar de subir montanhas –
interiores ou exteriores a nós -, de superação, de ousadia, de sacrifício.
Aventuras… só aquelas que não tiverem necessariamente consequências, as que não
comportarem um risco real – o que impede que sejam realmente aventuras…
Somos, cada vez mais, um pedaço de carne mole estendida à
sombra. Olhamos, na rua, para uma multidão e cada vez temos mais a sensação de
que não se diferencia muito de um rebanho, de que constitui uma massa amorfa
sem individualidades.
E, no entanto, esse rebanho segue um caminho; obedece a
indicações precisas, aceites por todos. Mesmo as coisas mais disparatadamente
contrárias à nossa natureza, ao nosso bem, à nossa felicidade, são
pacificamente aceites por todos.
Há alguém – há interesses – por trás da forma como, por
exemplo, são orientados muitos meios de comunicação. Estes nossos tempos têm os
seus “profetas” escondidos, que erguem o dedo e apontam caminhos que quase
todos seguem docilmente, como ovelhas tontas a quem basta a sua dose diária de
erva verde, de sombra e de descanso.
Transformar uma multidão de seres inteligentes em rebanho
foi – está a ser – uma gigantesca tarefa, reveladora de grande inteligência. E
, também, de muito desprezo pelos outros seres humanos.
Qual foi a tática? Foi, sem dúvida, complexa. Mas o seu
elemento mais decisivo consistiu em fazer crer às pessoas que se estava a
defender os seus interesses, os seus direitos e a sua liberdade. Como se esses
“profetas” se preocupassem generosamente com os interesses das outras pessoas…
Como se alguém tivesse visto essa gente a fazer voluntariado em hospitais ou a
distribuir os seus bens aos mais pobres…
Esta linguagem – “os vossos direitos, a vossa liberdade”…
– soa bem aos ouvidos de qualquer um… É atrativa, quase irresistível. Com ela
conseguiram mudar a mentalidade de muitos e alterar o tom da sociedade.
Quando lhes interessou que diminuísse o número de
nascimentos de crianças, procuraram que as mulheres passassem a estar fora do
lar (“A condição e a utilização das mulheres nas sociedades dos países
subdesenvolvidos são particularmente importantes na redução do tamanho da
família… As pesquisas mostram que a redução da fertilidade está relacionada com
o trabalho da mulher fora do lar”, lê-se no tenebroso Relatório Kissinger, pag.
151). Para isso, não fizeram leis que obrigassem a mulher a trabalhar longe de
casa, porque isso apareceria claramente como um abuso e uma ingerência e se
estava numa altura em que o mundo não admitiria novas tiranias. O que fizeram
foi divulgar a ideia de que a mulher tinha tanto direito como o homem a
trabalhar fora do lar. E as mulheres empertigaram-se… e a mensagem passou.
E não quiseram, pelo mesmo motivo, obrigar a mulher a
abortar. Disseram-lhe que tinha o direito de “interromper a gravidez” porque a
gravidez era um assunto apenas dela.
E não disseram aos casais que tivessem poucos filhos.
Mostraram-lhes, simplesmente, como era bom consumir; que tinham tanto direito
como os outros à qualidade de vida (ter muitas coisas…). Apenas lhes fizeram
notar que com cada filho se gasta uma fortuna… e que cada filho que viessem a
ter teria também o seu direito à qualidade de vida.
E, no início, não divulgaram diretamente o
homossexualismo. Falaram às pessoas de liberdade sexual, da livre escolha de
cada um nesse campo.
E não impediram os pais de educar os filhos. Falaram do
direito à educação, concretizando-o em leis – obrigatórias!… – que encaixotam
as crianças, desde tenra idade, em escolas que não são exatamente centros
educativos. Nesses lugares – longe da vista dos pais – ensinam atualmente os
jovens a terem relações pré-matrimoniais “seguras”. E a bondade da “opção
homossexual”. E outras coisas do género. É nisto – unicamente nisto – que
consiste aquilo a que pomposamente chamam “educação sexual”.
Tudo aquilo que, ao longo da história, muitos tiranos
tentaram, sem grande sucesso, realizar através da força – seleção de raça,
super-homem, eliminação dos deficientes e dos velhos e dos inúteis,
homem-ovelha facilmente conduzido – está agora a ser conseguido sem grandes
ondas…
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