O processo é sempre o mesmo e resume-se nisto: quem não
consegue viver de acordo com a sua forma de pensar corre o risco de que o seu
pensamento dê uma volta e se adapte à sua nova forma de viver…
Primeiro, descobrimos que se torna muito difícil moldar a
nossa vida por aqueles princípios que a nossa consciência nos indica como sendo
bons. É tudo muito complicado. Exige demasiados esforços. Não parece uma forma
de viver talhada à nossa pequena medida.
Depois, ao desistirmos de viver desse modo – e porque a
consciência não se cala – não encontramos paz dentro de nós, surgindo como solução
a triste possibilidade de tentarmos enganar a consciência.
(Dizem que os tormentos interiores são a pior das
torturas, e que as pessoas tudo fazem para se libertarem deles…).
Começamos então a procurar – para os apresentar a nós
mesmos – argumentos que sugiram estar errada a nossa forma inicial de pensar:
que tínhamos sido ingênuos; que déramos demasiada importância aos contos de
quando éramos pequenos e às tolas superstições dos nossos pais ou dos nossos
avós; que as coisas mudaram e os tempos são outros.
Nesta altura, basta um pequeno passo para passarmos a
admitir que, durante séculos e séculos, o mundo inteiro esteve enganado,
procurando o bem e a felicidade nos locais errados. Felizmente – pensamos – o
progresso veio dissipar essas trevas medievais… e trazer-nos uma nova moral,
mais ao nosso jeito: um bem e um mal que se adaptem aos nossos
interesses, que variem consoante as necessidades.
No entanto, deparamos nesta fase com um sério problema: a
coisa não resulta! A consciência diz-nos que não pode julgar segundo uma lei
que fomos nós mesmos a inventar. Diz-nos claramente que a lei a seguir deve
estar fora de nós e bem alto.
E é neste momento que sucede, por vezes, lançarmo-nos,
como último recurso, às leis dos países. Se essas leis passassem a autorizar
aquilo que fizemos – ou que fazemos e não queremos deixar de fazer –
encontraríamos talvez sossego…
Não é outra a causa das constantes aberrações que vemos
tomarem a forma de lei nos mais diversos países. Procuramos disfarçar com
roupagens de legalidade aquilo que de mais sujo existe dentro de nós, os nossos
fracassos, os interesses inconfessáveis, a nossa pouca vontade de fazer mais e
melhor.
Vemos, por exemplo, como aqueles que abortaram estão
entre os principais activistas pró-aborto, lado a lado com os que ganham
dinheiro com ele.
E cada um de nós já está, decerto, a lembrar-se de outros
exemplos. Também dentro de si mesmo.
Mas sucede que o processo não resulta mesmo! A
consciência, ao cumprir o seu papel de juiz, não se deixa enganar como uma criança.
E isso nota-se muito bem na continuação da ausência de alegria e de paz.
O caminho é outro, embora seja escarpado e agreste.
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