Senso Crítico

Senso Crítico

sábado, 27 de julho de 2013

Olhar Que Adivinha



De todas as adivinhações do amor nenhuma é mais funda que a dos olhares que se atam e parecem não poder desprender. Namorados assim o fazem, paqueras, aranhas, serpentes, aves, répteis, mamíferos, amantes, amigos, esposos. O olhar aprisiona-se no mistério do outro. E fala de encontros não verbais,
essenciais. Economiza tempo. Avança ou retrocede milênios na adivinhação do próximo.

O que será, este olhar? Susto? Sustar é paralisar. Há uma paralisia quando o amor é pressentido.
Susto mas adivinhação.
Adivinhação mas procura. No olhar de quem se adivinha amando, paralelo à felicidade transmite-se procura, indagação,ânsia de descobrir que se veio ao mundo para resgatar as incompletudes daqueles com quem se relacionará profundamente, se os encontrar e souber que encontrou .

Procura mas encontro.
No olhar que se cruza e paralisa cheio de significações encontra-se a instância deslumbrante na
qual o ser se descobre aceito, querido e perdoado.

Encontro mas impossibilidade.
Tudo o que vai sendo proibido, velado, guardado, adiado, faz-se verdade no momento da
hipnose do olhar que se atrai sem explicação.

Impossibilidade mas permissão.
As barreiras, medos, a polidez, recatos, as resistências que surgirão (reação que não
se explica mas se tem) deixam de existir no instante do olhar
que devasse a verdade funda. A entrega pré/sentida.

Permissão mas mergulho na sombra.
O demônio que mora dentro, a criança, o anjo, o pecado, o perdão, a esperança,
todos os mecanismos secretos, guardados, não sabidos, raro assumidos, jazem fugidios e perceptíveis no olhar que se defronta.

Não me refiro ao olhar apaixonado. Falo de algo além,
o olhar que paralisa o outro. Que se apavora de adivinhar-se, possivelmente feliz, e se descobre em profundidade e espanto no poço do outro, no fundo do qual mora uma certeza nunca antes
confirmada. Nada o detém, limita ou qualifica. Contém a pluralidade constitutiva da vida.
Explode na hora do amor ou no instante da morte. Seus compromissos são com o fundo, o longe, o eterno, o imponderável,o denso, o lindo, a paz, a tragédia ou a glória. Sua relação é com as certezas que a razão nunca terá, mas a emoção, a intuição e o sentimento (que vão além), de há muito as conhecem. Este olhar existe quando e onde sempre existiu. E existirá, a despeito de nós.

Pintura -Desire -  Rob Efferan

Nenhum comentário:

Postar um comentário