Encontro-me
na condição pouco frequente — ao menos no século em que vivemos
— de ser mãe de uma jovem que viu, ao longo dos últimos dois
anos, quatro de suas amigas entrarem para um convento. Três delas
são postulantes e esperam ser admitidas à clausura de um Carmelo.
Elizabeth, minha filha, participou de mais chás de panela de noivas
de Cristo do que de noivas comuns. Não que isso seja ruim. Pelo
contrário, é algo muito bom. Para mim, a parte mais difícil e
complicada dessa experiência tem sido explicá-la aos demais, mesmo
aos católicos com quem tenho mais contato. Flannery O'Connor estava
certo ao dizer: "Descobrireis a verdade e a verdade vos fará
esquisitos". Hoje
em dia, uma jovem católica que abdica livremente do mundo para ir
enclausurar-se num convento é algo que chama a atenção de qualquer
pessoa.
Todas
essas jovens que decidiram consagrar-se à vida religiosa são
atraentes, dinâmicas, inteligentes e talentosas. Nenhuma delas teria
problema no "mundo real" para encontrar um bom emprego,
conseguir uma casa legal e arranjar um belo marido. Como tudo isso é
verdade, a resposta mais comum que escuto depois de comentar que
Hannah, ou Brigitta, ou Michaela ou Lisa foram para um convento é:
"Nossa, mas ela é tão… bonita, esperta, capaz, talentosa!" A
resposta vem sempre com um tom de perplexidade e pesar.
Não que eu mesma
esteja imune a esse tipo de reação. Fui à tomada de hábito de
Hannah, amiga de minha filha, e estive perfeitamente consciente,
durante toda a celebração, de que os pais dela estavam sentados bem
à minha frente no banco da igreja. Peguei-me meditando na quantidade
de dinheiro que eles investiram na educação da filha; pensei nos
feriados que eles passariam sem ela, na ausência que sentiriam no
dia-a-dia, nos netos que nunca teriam. Estes pensamentos, para ser
sincera, impediram-me de participar da alegria serena daquela manhã,
e quando me dei conta, no café após a Missa, de que estava sentada
cara a cara com os pais de uma moça que entrara para o Carmelo um
ano antes, comecei a perguntar-me sobre a dificuldade de conviver com
uma tal decisão. Os pais de Brigitta pareciam agradecidos, embora
manifestassem um pouco da tristeza que sentiram quando a filha quis
ir para a clausura; mas eles, ainda assim, repetiam vez por outra o
mesmo refrão: "Brigitta está em paz".
Depois
do café, foi a hora das despedidas. Meu marido, minha filha e eu
entramos em uma sala em que Hannah, tranquila com seu hábito marrom
e seu véu, estava sentada atrás de uma grade. Naquele pequeno
cômodo senti-me confortada com um fato que fez desvanecer todos os
pensamentos e receios que até então estive alimentando: Hannah
estava radiante de alegria.
Era uma alegria tão palpável que se irradiava, como se fora uma
força física no quarto. Todas
as minhas perguntas, dúvidas e medos desapareceram diante da força
daquele contentamento.
Infelizmente,
a maior parte de meus familiares e amigos católicos não
testemunharam o momento. Eles são sensatos o bastante para não
soltar um "Ah, mas que desperdício!" quando uma jovem
decide tornar-se religiosa; mas, mesmo assim, o sentimento de pesar
está claramente estampado em seus rostos, deixa-se entrever em seu
próprio tom de voz. Na verdade, a grande pergunta que a todos
aflige, mas que ninguém ousa confessar, é: por
que uma moça que tem tudo fugiria deste mundo maravilhoso para
esconder-se num convento?
Somadas
à minha, essas reações fizeram-me pensar profundamente durante as
últimas semanas. O que reações como essas dizem-nos sobre quem nós
somos — não sobre quem dizemos ser, mas sobre quem realmente
somos? Enquanto voltávamos para casa depois da cerimônia de tomada
de hábito de Hannah, pensei comigo: "Essas
meninas se comportam como se realmente acreditassem em tudo isso. Meu
Deus, elas realmente acreditam".
O que me veio à mente em seguida, é claro, foi: "E eu, também
acredito?" O que a minha própria reação — perguntei-me —
diz sobre o que verdadeiramente creio? Acaso tenho vivido como se
cresse de fato em tudo isso? Se não, como seria a minha vida se eu
acreditasse mesmo?
Não se trata de
perguntas fáceis. Até certo ponto, estou com a consciência
tranquila: sou sacramentalmente uma católica em união com a Igreja;
criei três filhos, que são ainda hoje, como jovens adultos,
católicos praticantes; dou aulas em uma universidade católica e
conferências em minha arquidiocese sobre temas católicos; escrevo
artigos para revistas católicas que são bem recebidos pelos
leitores. Tudo muito bom, tudo muito bem. No entanto, minha reação
à entrada destas moças num convento é um sintoma muito incômodo
para ser ignorado. E não penso estar sozinha.
Vários
anos atrás, uma jovem religiosa das Irmãs do Bom Pastor deu em um
colégio católico local uma pequena palestra sobre vocações. Ela
nos disse que, ao contar à sua família, aliás muito católica, que
se sentia chamada e havia decidido entrar no noviciado, sua irmã
exclamou, espantada: "Se
eu soubesse que ia dar nisso, jamais teria feito aquela Oração
pelas Vocações!"
Outra jovem católica, depois de passar alguns anos sem namorar,
apesar das muitas oportunidades, finalmente confessou à família ter
sentido atração por outra mulher e que, por isso, estava decidida a
viver castamente, como uma mulher católica. Foi então que um
parente seu disse: "Que alívio! Graças a Deus por você ser
apenas gay!
Todos estávamos pensando que você ia se tornar freira".
Ora,
o que tudo isso nos revela sobre o nosso mundo, em que as
famílias têm cada vez mais facilidade em lidar com um filho gay do
que com uma filha carmelita? A
resposta, penso eu, é muito clara. Vivemos
numa cultura em que tudo deve ser aceito, tolerado e até mesmo
comemorado.
Nesse mundo, nenhuma decisão pode ser condenada como muito radical
ou estranha, exceto
a decisão de consagrar inteiramente a própria vida — bela,
talentosa, inteligente — a Cristo e somente a Cristo.
Isso é muito esquisito, muito estranho, muito duro.
Mas
talvez isso não devesse ser surpresa. Jesus, no fim das contas,
nunca disse: "Segui-me, e ficareis bem na fita com vossos
colegas!" Ele nunca disse: "Tomai vossa cruz, e os vossos
amigos dirão: 'Que maravilha! Meus parabéns!'" O que Jesus
disse foi: "Sereis odiados de todos por causa de meu nome"
(Mt 10,
22). Ao longo dos Evangelhos, Ele avisa os Doze de que as
pessoas rejeitarão violentamente a quantos O seguirem.
Edith
Stein (irmã
Teresa Benedita da Cruz) lembra-nos de que Jesus "pergunta a
cada um de nós: Tu permanecerás fiel ao Crucificado? Pensa-o
bem!... Se te decidires por Cristo, isto pode custar-te a vida".
Edith Stein diz-nos que a cruz cria divisão "entre aqueles cujo
principal amor é Deus e aqueles cujo principal amor é o próprio
eu". Do mesmo modo, São Paulo ensinou que "a linguagem da
cruz é loucura para os que se perdem" (1Cor 1,
18).
Poucos
meses depois de Hannah ter entrado no convento como noiva de Cristo,
participei de um chá de panela de uma jovem que iria casar-se dali a
pouco tempo. Dias antes do casamento, recebi a notícia de que Lisa,
uma das convidadas, estava prestes a ingressar, em coisa de um mês,
numa nova e animada congregação de religiosas, as Escravas do
Sagrado Coração de Jesus. Enquanto a futura esposa abria os
presentes e exclamava de alegria a cada um deles, as mulheres já
casadas sorriam e se olhavam entre si. Mary-Catherine, a jovem noiva,
escolheu casar-se, e nós conhecemos bem essa escolha. Nós
"percebemos" de que maneira a
nossa vocação —
a vocação para o casamento — é
nosso caminho para o céu.
A
vocação de Lisa para ser Escrava de Cristo, no entanto, nos é
pouco familiar. A vocação matrimonial pode levar-nos para o céu,
mas, como
o Papa São João Paulo II sabiamente nos recorda,
é a vida de Lisa que irá refletir, da forma mais precisa, o que
será o Reino dos Céus: "A
vida consagrada anuncia e de certo modo antecipa o tempo futuro,
quando, alcançada a plenitude daquele Reino dos Céus que agora está
presente apenas em gérmen e no mistério, os filhos da ressurreição
não tomarão esposa nem marido, mas serão como anjos de Deus
(cf. Mt 22,
30)" [1].
Uma
das convidadas ao chá de panela de Mary-Catherine, ao ficar sabendo
do chamado de Lisa, disse-me em particular: "Nossa... Então,
nada de sexo, nem de marido, nem de filhos. E o que acontece se ela
deixar tudo e descobrir depois que estava errada? E se esta vida aqui
for a única que temos, e ela estiver abandonando tudo em troca de
nada?" Trata-se, certamente, de uma questão desconcertante. Mas
uma questão, ainda mais importante para o resto de nós, deveria
ser: "E
se ela estiver certa?"
Toda
e qualquer vocação, quando aceita e vivida de modo adequado, é um
caminho que nos conduz a Deus.
Para muitos de nós, este caminho é o matrimônio; para outros, uma
vida casta de solteiro. Deus nos dá tudo de que precisamos, e as
nossas vocações pessoais estão perfeitamente ajustadas ao
temperamento e às disposições de que Ele nos dotou. Mesmo assim,
ainda vale a pena perguntar-nos, qualquer que seja o caminho que
estamos trilhando nesta vida: "Como seria a minha vida se eu a
vivesse como quem realmente tem fé? Eu pareceria estranho aos olhos
do mundo? A minha vida é um sinal, uma contradição, uma pedra de
tropeço? Se não, por que não?"
São questões sobre
as quais vale a pena refletir.
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