Somos do mais tolo que existe. Acontece-nos com
frequência sermos vítimas da nossa falta de ligação à realidade. A televisão,
os filmes, os computadores… levaram-nos até muito longe daquilo que é real.
Talvez nos falte aquele contato diário com o campo, com os ritmos naturais, com
os tempos de uma plantação de batatas.
Na nossa vida – em tantas circunstâncias diferentes –
sucede com demasiada frequência que achamos ter direito aos frutos sem que
tenha havido antes a árvore, sem que tenha havido antes a semente no mar da
terra. Não sabemos esperar; não descobrimos a relação entre o tempo e os frutos
do tempo, entre o esforço e os frutos do esforço. A causalidade é uma coisa
desconhecida para nós.
A preguiça faz-nos imaginar que existem, além do mundo
das máquinas, outros âmbitos em que basta carregar num botão para fazer surgir
resultados.
E tanto nos convencemos de tudo isto que em muitos
aspectos andamos inchados por fora e vazios por dentro. Andamos pintados,
disfarçados… Porque quisemos ser sem ser. Ser porque sim, por decreto… Ser sem
nos termos construído, sem a paciência, sem o esforço, sem a espera.
Não é possível fazer noitadas frequentes e ser-se um bom
atleta; não é possível ser-se honesto sem antes disso ter dito muitas verdades
daquelas difíceis; não é possível eliminar a droga sem antes disso ter
edificado a família; não é possível acabar com a pedofilia permitindo a
pornografia; não tem qualquer sentido armar-se em defensor dos direitos humanos
e permitir o aborto.
Semente, árvore, fruto. Tempo. E, durante o tempo,
esforço, dor, teimosia da boa, desânimo e de novo esperança.
Semente, árvore, fruto. De baixo para cima, do pequeno
para o grande, do que não se vê para aquilo que é visível. O resto é mentira.
Mentira é a amizade feita à base de palmadinhas nas
costas e da conjugação de interesses muitas vezes pouco nobres. Ou à base de
noites bem bebidas em discotecas. Mentiras são os livros de belas capas,
promovidos por poderosas campanhas publicitárias, e que por dentro têm… lixo.
E, tantas vezes, não passam de mentiras as gravatas e os automóveis e as motas
e as roupas de marca…
Quando não estamos dispostos ao esforço necessário para
nos tornarmos fortes, belos, sérios, credíveis, podemos chegar a parecê-lo. Mas
isso de pouco nos adianta, porque a mentira é estéril, e tudo o que com ela se
consegue é fugaz, é ar e vento. E dói por dentro com dor verdadeira.
É pena que nem todos tenhamos passado pela experiência de
trabalhar na construção de uma casa. Que nos tenhamos limitado a habitar casas
feitas. Teriam sentido para nós palavras como “alicerce” ou “fundamento”. Saberíamos
que um edifício cresce tijolo a tijolo; que a sua força reside no que não se
vê; que não se começa a fazê-lo pelo telhado ou pelos acabamentos.
Aquilo que é bom necessita de tempo e de esforço e da
repetição de gestos pequenos, muitas vezes dolorosos.