Senso Crítico

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quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Causa ou Culpa


              Culpa! Culpa! Culpa! Sempre a palavra culpa. Faz parte dos genes do ser humano. Somos, todos, semoventes tristes, perseguidos por culpas reais,
irreais, fantásticas, conscientes, inconscientes, verdadeiras, falsas,
impostas pelos outros. Culpa! Culpa! Todos se culpam ou culpam aos
demais. Culpar-se ou culpar alguém, ou aos demais, eis uma preferência                               mundial...
                                 
Culpa, ó trágico engano de não se sabe que ancestral! Chama-se
de culpa o que as vezes é causa. Fulano não é o culpado de tal
ato. Fulano foi a causa de tal ato. Troque culpa por causa e
verá o mundo melhor. Causa não é culpa.
Chama-se de culpado quem às vezes é, tão somente, o responsável
por algo. Responsável, sim, não culpado! Culpa é algo maior e mais terrível, por isso é raro. Culpar não é tarefa dos homens.
Cabe aos deuses.
                                    
E por causa da troca de palavras (causa por culpa) sem consciência
de que se está trocando conceitos seriíssimos, pessoas passam pelo mundo atormentadas pela culpa. O mundo nada mais é que um grande tanque
cheio de culpados imaginários e reais, seres a quem foi ensinado
sentirem-se culpados, onde deveriam apenas sentir-se (quando muito)
causadores ou responsáveis.
                                    
Culpa é raro e sério demais para ser vulgarizada assim. É culpado quem mata. Não é culpado quem ama, mesmo se ama errado. É culpado quem ofende. Não é culpado quem defende. Não tem culpa
quem não pode fazer mais do que faz ou, quem foi relegado a
miséria, a ignorância, nem quem tenta e não consegue. Não é
culpado quem fracassa. Não é culpado nem o que erra. Culpa é assunto dos deuses.
                                    
 Por que infernizar a vida dos filhos, amigos e cidadãos dessa república de sonhos que é a vida, com a idéia torpe de uma culpa
geral, abissal, precedente, mortificadora? Por que a mania de buscar culpados para exorcizar os próprios medos?
                                    
Por uma falsa idéia de culpa mataram o Cristo. E todos os mártires e avatares.

Não somos culpados: somos vítimas, cheias de esperança e medo.
Somos, apenas, uma espécie rara de pessoas que mal se agüentam
consigo mesmas, por isso vivem à cata de culpas.


Que nasça a responsabilidade maior de cada ser humano no lugar
da culpa! Culpa é um legado doloroso de alguma angústia ancestral, alguma dor existencial ou doença muito séria, alguma imperfeição de nossa formação biológica, que é preciso arquivar.

                            Artur da Távola

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