Temos a clara sensação de que este nosso tempo – que se
encheu de agitação, de ruído e de festa – carece de alegria.
São poucas as pessoas alegres, essas que têm lá dentro
qualquer coisa que não sabemos bem se é arco-íris ou fonte: qualquer coisa que
transborda em graça, em elegância, em riso verdadeiramente puro.
Quando nos rimos é sempre de passagem; é sempre para
esquecer que não encontramos motivos para rir. O nosso riso não passa de um
esgar tolo, que não vem de dentro.
Este tempo é triste.
E a razão é que procuramos demasiado a felicidade.
Procuramo-la com obsessão, com todos os meios – quase sempre com os meios
errados; trazemo-la constantemente na boca; consideramo-la um direito nosso, a
ponto de acharmos lícito eliminar qualquer coisa, exterior a nós, que
consideramos opor-se a ela.
Tinham-nos dito – mas acabamos por o esquecer, por tanto
corrermos na confusão em que deixamos que se transformasse a nossa vida – que
era preciso renunciar à felicidade para se ser feliz…; que a felicidade consistia
em aceitarmos ser infelizes, sem nos importarmos com isso.
Outrora, os homens aceitavam a vida como uma sucessão de
dias, durante os quais havia que cumprir uma missão, uma tarefa, um ideal.
Esses objetivos que tinham eram sempre qualquer coisa que se localizava fora
deles e muito acima. Eram qualquer coisa tão grandiosa que merecia que eles se
gastassem no seu cumprimento, muitas vezes até ao extremo de darem a vida por
ela.
Consideravam muito justo e natural renunciar ao seu
consolo, ao seu conforto, à sua comodidade, para obterem um bem relacionado com
a família, com a pátria, com Deus…
Tinham a noção de que eram construtores.
Trocavam-se por esses bens. Adiavam a felicidade.
Renunciavam a ela.
Mas cumpriam-se.
E era quase sempre com surpresa que um dia olhavam para
si mesmos e se descobriam… felizes.
Tinham dado um sentido à vida. Tinham vidas cheias.
Mas nós… Começamos por perder Deus, porque ouvimos dizer
que talvez não existisse e isso dava um certo jeito a determinada parte obscura
de nós. Logo a seguir, naturalmente, perdemos o sentido de pátria. E há
bastante tempo que começamos a perder a família.
Apagamos do horizonte, portanto, tudo aquilo que estava
acima de nós. Já não nos submetemos; já não precisamos de servir; somos os
maiores.
Resolvemos ser autossuficientes. Quebramos todos os
laços. E – por confusão – chamamos liberdade a isso…
Mas se não existe nada acima de nós, de quem receberemos
a felicidade? Devíamos pensar nisto: por mais tontos que sejamos, somos capazes
de compreender que não possuímos a capacidade de darmos a nós mesmos a
felicidade…
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