Senso Crítico

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domingo, 2 de março de 2014

Uma Hipocrisia Historicamente Insensata


Anotícia de que a Bbc decidiu mudar a definição da datação — substituindo as habituais siglas que remetem para antes de Cristo e depois de Cristo com um genérico «era comum», para não ofender os fiéis de outras religiões — não suscitou grandes reacções. Excepto a de muitíssimos não-cristãos que, mediante vários porta-vozes, disseram que não se sentiam de modo algum ofendidos pela data tradicional.
Mas estas tomadas de posição compostas e respeitosas não sensibilizaram os dirigentes da emissora britânica, como já aconteceu noutros casos análogos. Na realidade, já é bem claro que o respeito pelas demais religiões constitui apenas um pretexto, porque quantos querem eliminar qualquer vestígio de cristianismo da cultura ocidental são apenas alguns leigos ocidentais.
E certamente não é a primeira vez que isto acontece. A tentativa de mudar a data veio da Revolução francesa, que impôs um novo calendário no qual a contagem do tempo começava a partir de 14 de Julho de 1789, dia tradicional do início dos movimentos revolucionários, e inventou novos nomes para os meses, obviamente anulando as festas cristãs, substituídas por outras «revolucionárias». As semanas, para eliminar o domingo, foram substituídas pelas décadas. O calendário durou pouco, e foi cancelado em 1806 por Napoleão: as novas datas tinham algo de postiço e de ridículo, até para os iluministas mais orgulhosos.
A segunda tentativa foi feita por Lenin, que mudou o calendário substituindo-o com uma data que começava a partir do golpe de Estado, a 24 de Outubro de 1917. Este calendário, que permaneceu em vigor de 1929 a 1940, substituía as semanas com um ritmo de cinco dias, e naturalmente abolia as festas cristãs, substituindo-as com as que surgiram da Revolução. No entanto, também esta não teve muito sucesso, como demonstra o facto de que foi usado paralelamente ao calendário gregoriano, também para manter relações com o resto do mundo. Assim aconteceu inclusive para a data a partir da marcha sobre Roma, com a qual começava a Era fascista, imposta por Mussolini e que todavia era acompanhada pela tradicional, sem pretender substituí-la.
Em síntese, a ideia de remover o calendário cristão tem péssimos antecedentes, com numerosas falências no passado. É preciso dizer que desta vez a Bbc se limita a mudar a expressão, e não a contagem do tempo, mas agindo assim não se pode negar que realizou um gesto hipócrita. A hipocrisia de quem faz de conta que não sabe por que motivo precisamente a partir daquele momento se começa a contar os anos.
Negar a função historicamente revolucionária da vinda de Cristo sobre a terra, aceite até por quantos não O reconhecem como Filho de Deus, é uma enorme tolice. E, sob o ponto de vista histórico, sabem-no tanto os judeus como os muçulmanos.
Como se pode fingir que não se sabe que só a partir daquele momento se afirmou a ideia de que todos os seres humanos são iguais, porque são todos filhos de Deus? Princípio sobre o qual se fundam os direitos humanos, com base nos quais se julgam povos e governantes. Princípio que até àquele momento ninguém tinha defendido, e sobre o qual, de resto, se baseia a tradição cristã.
Por que deixar de reconhecer que a partir desse momento o mundo mudou? Que desapareceram tabus e impurezas materiais, e que a natureza foi libertada da presença do sobrenatural precisamente porque Deusa é transcendente? A partir destas realidades nasceu a possibilidade para os povos europeus de descobrir o mundo, e para os cientistas, de encetar o estudo experimental da natureza, que levou ao nascimento da ciência moderna.
Por que, então, negar até as dívidas culturais que a civilização tem em relação ao cristianismo? Nada existe de mais anti-histórico e de mais insensato, como entenderam claramente judeus e muçulmanos. Não é questão de fé, mas de razão. Também desta vez.

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