Costuma-se dizer que “a mentira tem pernas curtas” e também
que “no final, a verdade sempre aparece” . Parece-me que o primeiro provérbio
é menos verdadeiro que o segundo, pelo menos em nossos
dias. Vemos e ouvimos mentiras que fazem, impávidas, longas e
vitoriosas caminhadas até que, um dia – e afinal – a verdade aparece. Nestes
nossos dias de comunicação de massa de um lado, e
de dramática falta de credibilidade na pessoa humana, de
outro, um novo axioma vai surgindo e se impondo: uma
afirmação, uma vez feita, é muito difícil de ser desmentida, seja ou
não verdadeira. Um fato uma vez revelado, perdura
em sua essência a
despeito de quaisquer justificações.
Há, ainda, na vida, as
danadas das meias verdades..
O
princípio jurídico determina que in dubio pro reo , ou seja, que a dúvida
beneficie o acusado, ou trocado em miúdos, que ninguém tem que
provar a sua inocência, pois o ônus da prova cabe à acusação.
Infelizmente, na vida prática as coisas não correm assim. E generaliza-se a
prática de lançar afirmações a torto e a direito, não apenas na vida
política (a mais visada de todas), mas também no meio artístico (muito
atingido), seguindo-se o mundo dos negócios para chegar até o
relacionamento particular das pessoas. A palavra de ordem é gritar afirmações,
o mais alto que puder, e de preferência acusações contra inimigos,
invejados, rivais, vitoriosos etc. Podem ser coisas sutis, que
deixarão dúvidas por muito tempo; podem ser mentiras grosseiras logo
desmascaradas. Em qualquer caso, ficará um resquício da afirmação feita e
a limpidez da verdade nunca será resposta.
Só o tempo a
tudo aplaina, aplaca, explica, absolve.
Se é assim
com as mentiras, muito mais com as verdades! Mesmo as que já não o são. O
tempo e as circunstâncias podem determinar alterações profundas
nos fatos e, principalmente, nas pessoas. Mas a verdade presente tem sempre
menos força do que a anterior, quando, por lógica, deveria ser o contrário. É
aí que se inverte o princípio jurídico e o inocente passa a ter de provar que
não é mais culpado
(nesse mais repousa todo o “x” da questão: ele foi culpado e as pessoas
se perguntam ou perguntam umas às outras
“por que teria ele
mudado agora?”). Há mil respostas para essa pergunta, mas dificilmente alguma é
suficientemente nítida para mudar a situação: o ex-culpado continua sendo
culpado, até prova cabal de sua presente
inocência.
É assim no
amor, na política, nos negócios, na vida particular. Antes, em qualquer
desses campos, havia o temor de “ficar falado”, mas tudo se
passava em círculos restritos. Hoje, ato impensado ou frase
infeliz percorrem o mundo em segundos, via satélite.
Consertar o ato, remendar a frase serão meros paliativos de mal sem remédio.
Artur da Távola
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