Senso Crítico

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sábado, 2 de junho de 2012

Verdade e Mentira



Costuma-se dizer que “a mentira tem pernas curtas” e também que “no final, a verdade sempre aparece” . Parece-me que  o primeiro provérbio é menos verdadeiro que o segundo, pelo  menos em nossos dias. Vemos e ouvimos mentiras que fazem, impávidas, longas e vitoriosas caminhadas até que, um dia – e afinal – a verdade aparece. Nestes nossos dias de comunicação de  massa de um lado, e de dramática falta de credibilidade na  pessoa humana, de outro, um novo axioma vai surgindo e se  impondo: uma afirmação, uma vez feita, é muito difícil de ser desmentida, seja ou não verdadeira. Um fato uma vez revelado, perdura
em sua essência a despeito de quaisquer justificações.
Há, ainda, na vida, as danadas das meias verdades..
O princípio jurídico determina que in dubio pro reo , ou  seja, que a dúvida beneficie o acusado, ou trocado em miúdos, que  ninguém tem que provar a sua inocência, pois o ônus da prova cabe à  acusação. Infelizmente, na vida prática as coisas não correm assim. E generaliza-se a prática de lançar afirmações a torto e a direito, não apenas na vida política (a mais visada de todas), mas também no meio artístico (muito atingido), seguindo-se o mundo dos negócios para chegar até o relacionamento particular das pessoas. A palavra de ordem é gritar afirmações, o mais alto que puder, e de preferência acusações  contra inimigos, invejados, rivais, vitoriosos etc. Podem ser coisas sutis, que deixarão dúvidas por muito tempo; podem ser mentiras  grosseiras logo desmascaradas. Em qualquer caso, ficará um resquício da afirmação feita e a limpidez da verdade nunca será resposta.
Só o tempo a tudo aplaina, aplaca, explica, absolve.
Se é assim com as mentiras, muito mais com as verdades! Mesmo as que já não o são. O tempo e as circunstâncias podem determinar alterações profundas nos fatos e, principalmente, nas pessoas. Mas a verdade presente tem sempre menos força do que a anterior, quando, por lógica, deveria ser o contrário. É aí que se inverte o princípio jurídico e o inocente passa a ter de provar que não é mais culpado (nesse mais repousa todo o “x” da questão: ele foi culpado e as pessoas se perguntam ou perguntam umas às outras
 “por que teria ele mudado agora?”). Há mil respostas para essa pergunta, mas dificilmente alguma é suficientemente nítida para mudar a situação: o ex-culpado continua sendo culpado, até prova cabal de sua presente inocência. 
É assim no amor, na política, nos negócios, na vida particular. Antes, em qualquer desses campos, havia o temor de “ficar falado”, mas tudo se passava em círculos restritos. Hoje, ato impensado ou frase infeliz percorrem o mundo em segundos, via satélite. Consertar o ato, remendar a frase serão meros  paliativos de mal sem remédio. 
                                    
                        Artur da Távola

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