Senso Crítico

Senso Crítico

domingo, 15 de julho de 2012

Fazer Amor é Coisa Séria


Fazer amor é coisa séria!
Não basta um corpo e outro corpo, misturados num desejo insosso, desses que dão feito fome trivial, nascida da gula descuidada, aplacada sem zelo, sem composturas , sem respeito, atendendo exclusivamente a voracidade do apetite.
Fazer amor é percorrer as trilhas da alma, uma alma tateando outra alma, desvendando véus, descobrindo profundezas, penetrando nos escondidos, sem pressa com delicadeza ... porque alma tem tessitura de cristal, deve ser tocada nas levezas, apalpada com amaciamentos.. até que o corpo descubra cada uma das suas funções.

Quando a descoberta acontece é que o ato de amor começa.

As mãos deslizam sobre as curvas, como se tocando nuvens, a boca vai acordando e retirando gostos, provocando os sabores, bebendo a seiva que jorra das nascentes, escorrendo em dons, é o côncavo e o convexo em amorosa conjunção.
Fazer amor é Ressurreição !!!
É nascer de novo : no abraço que aperta sem sufocamentos no beijo que cala a sede gritante, na escalada dos degraus celestiais que levam ao gozo.
Vale chorar, vale gemer .. vale gritar, porque ai já se chegou ao paraíso, e qualquer som ha de sair melódico e afinado, seja grave, agudo, pianinho... há de ser sempre o acorde faltante quando amantes iniciam o milagre do encontro.
Corpos se ajustaram, almas matizaram ... Fez-se o Êxtase !!! É o instante da paz ... é a escritura da serenidade !
E os amantes em assunção pisam eternidades !!!!

( Palavras de um Frei do Colégio Santo Agostinho )

domingo, 1 de julho de 2012

As Palavras Irreparáveis



Algures, quase sempre em ambiente de festa, talvez junto de um altar, ela e ele pronunciavam as palavras irreparáveis.
Tinham pensado nelas e no que significavam.
Tinham deixado que o tempo corresse um bom bocado depois da passagem daquele sopro mágico que os atraíra um para o outro. Tinham-se conhecido melhor. Tinham observado bem as reações um do outro. Tinham conversado muito. Tinham construído – a partir dos planos de ambos – um único projeto.
Sabiam que o sopro mágico tinha apenas o papel de iniciar uma coisa nova; e que partiria depois de algum tempo.
Isso não os assustava.
Iam em frente, com esperança, com alegria. E continuavam, depois de chegarem as crianças, contentes por a vida se complicar. Conversavam, discordavam, retificavam, pediam perdão. Não à frente dos filhos, que tinham de se sentir seguros e não saberiam compreender; que poderiam julgar que o pai e a mãe discutiam.
Sucedia, normalmente, cedo ou tarde, o desencanto, a perda de sentido, a vontade de deixar tudo e procurar de novo, noutro lugar, um outro sopro mágico. Mas tinham empenhado a palavra. Tinham pronunciado as palavras que – dentro deles e à sua volta – não tinham retorno.
Ficavam. Iam ficando. Às vezes com prolongada dor, às vezes com um heroísmo de que não se julgavam capazes.
O tempo, porém, trazia, devagar, a calma, a alegria serena, a luz que parecia ter desaparecido. Aprendiam que o amor também passa como que por uma conturbada fase de adolescência, até que vem a tornar-se maduro, se purifica, se fortalece e embeleza.
Depois ficavam tão contentes!
Tudo tinha sido útil, tudo tinha tido o seu papel. Também a dor; também os esforços que pareciam inúteis; e as cedências e os silêncios e as humilhações.
Viam com toda a clareza como por coisa perdida tinham ganhado mil; como por cada lágrima derramada tinham oceanos de sorrisos; como por cada generosa tentativa, aparentemente frustrada, haviam recolhido cestos e cestos de consolação.
Olhavam e viam os filhos e os netos; a casa cheia de rebuliço; tranças louras; corridas atrás do gato; o indescritível prazer de voltar a contar as velhas histórias. “Avó, conta outra vez a da Cinderela”…; “Avô, é mesmo verdade que antes havia duas R.T.P.?”…
Viam, como num sonho, o passado e o futuro unidos por um nó que eram eles mesmos. Um nó que nada tinha podido quebrar e permitira o futuro, novos seres, outros sonhos tão iguais aos que eles mesmos tinham sonhado. Haviam suportado a tempestade e passado o Cabo; a Índia estava ali à frente dos olhos; o caminho, aberto para tantos e tantos cujos rostos eles nem sequer imaginavam.
Tinham tido um lugar no longo fio da vida; tinham sido alicerce e cimento; tinham as mãos cheias de sol. Nunca morreriam.
……………….
Pode parecer que estive aqui a descrever um quadro que me encantou num museu qualquer… mas não. Sei muito bem que isto, só isto, é real e verdadeiro; que só isto é de hoje e de sempre.

Paulo Geraldo